Fórum InterAmericano de Filantropia Estratégica em Natal discute caminhos para Setor Social brasileiro

8 de abril de 2014 • Publicado em Sem categoria

DE BRAZILFOUNDATION

De 11 a 14 de março, aconteceu em Natal o FIFE-2014, primeiro  Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica, organizado pelo Instituto Filantropia de São Paulo. O Fórum teve como objetivo discutir a atuação da filantropia de forma estratégica e estabelecer uma rede de conhecimento, aprendizado e crescimento profissional que possam criar profunda sinergia, relacionamento e integração entre os participantes e contribuir para a profissionalização do Setor Social.

Conversamos com Leona Forman,  Fundadora  e Presidente dos Conselhos da BrazilFoundation, jornalista e líder por 20 anos na Organização das Nações Unidas, convidada para fechar o segundo dia do evento. A história inusitada da  BrazilFoundation poderia inspirar outras organizações na superação de desafios comuns a partir do compromisso e confiança de um pequeno time que, com muita garra e motivação, acreditou na ideia de uma filantropia de Diáspora brasileira e fez acontecer.

Quais foram suas impressões sobre o encontro? Foi possível observar avanços no Setor?

Foi bom ter tido a oportunidade de palestrar neste primeiro encontro do FIFE pois pude ver o quanto o Setor Social brasileiro progrediu nesses 13 anos desde que conheci a filantropia no país. O setor está conquistando maior democratização, se profissionalizando e tecendo parcerias que 13 anos atrás eram inconcebíveis de imaginar.

Em 2002, certamente não haveria 260 pessoas representando pequenas e médias organizações da sociedade civil de uns 11 estados brasileiros, participando de um evento em Natal, Rio Grande do Norte. Não teríamos a diversidade de organizações, incluindo algumas religiosas, interessadas não só em adquirir conhecimentos mas em compartilhar práticas, resultados, experiências. Percebi uma preocupação comum em compartilhar ferramentas de gestão para lidar com os desafios nas áreas social, cultural, ambiental, educacional e de saúde.

Para mim, o primeiro FIFE proporcionou essa troca significativa que todas as organizações estão buscando de forma muito genuína. O encontro teve muito sucesso na abertura de canais de diálogo entre palestrantes e a audiência, proporcionando uma exploração mais profunda de temas como contabilidade, certificação, comunicação, legislação, captação de recursos, auditoria, e o papel do voluntário na promoção da missão das organizações da sociedade civil.

Em relação a sua apresentação, sobre os desafios que enfrentou na criação da BrazilFoundation, como foi a troca com o público do evento? Os desafios são semelhantes?

Foi muito gratificante contar a minha história e compartilhar as realizações e abrangência do trabalho da BrazilFoundation hoje. A fundação, que começou com o que chamamos de “filantropia de Diáspora”, completou 13 anos de trabalho criando pontes entre brasileiros residentes nos Estados Unidos que querem dar de volta a outros no país os recursos que os ajudaram a construir suas vidas. Essa necessidade de partilhar e de participar da melhoria de condições de vida de comunidades mais isoladas e de baixo nível econômico no Brasil motivou os primeiros voluntários que contaminaram outros criando uma rede que hoje se expande cada vez mais. Eu mesma vivi esse desejo de dar de volta. Estudei, aprendi, trabalhei, fiz amizades que perduram até hoje e muitos aprendizados aqui. Então, ao me aposentar, quis oferecer minha experiência e encontrar recursos para outros que estão prontos para a realização de seus sonhos neste país.

A BrazilFoundation faz essa ponte entre doadores, sejam empresas ou pessoas físicas, e líderes sociais brasileiros, pessoas visionárias, criativas e corajosas que atuam de maneira empreendedora transformando as diferentes realidades das suas comunidades.

Percebi que muitas pessoas ficaram animadas  ao saber como a BrazilFoundation começou apenas com uma ideia, sem apoio, estrutura ou recursos. Seu sucesso se deve a garra de voluntários e de um pequeno time em Nova York e no Rio de Janeiro que conseguiu realizar a missão de gerar recursos para projetos sociais transformadores no Brasil. Hoje, já foram mais de 350 projetos apoiados e US$30 milhões captados entre mais de 8.000 doadores.

E quais foram as principais questões em discussão e o que você considerou mais relevante e que precisa ser colocado na pauta das organizações do Setor Social hoje?

Diria que os principais temas discutidos nos três dias de sessões intensas, ricas em conteúdo e bom humor, foram os seguintes:

  1.  Missão: “se não souber para que porto está indo, nenhum vento lhe será favorável (Seneca), citação interessante do consultor paulista Michel Freller que discutiu a importância da clareza de propósito das organizações. 
  1. Parcerias e profissionalização da gestão: é preciso que as organizações sejam cada vez mais profissionais na gestão de pessoas, na prestação de contas (transparência), na utilização de tecnologias e na comunicação. Houve pleno acordo de que, para conseguir parcerias com agências do governo e/ou empresas cada vez mais interessadas no investimento social, essa profissionalização é crucial. Para realizar seus objetivos de responsabilidade social corporativa, as empresas precisam de parceiros tanto no Setor Social como nas agências governamentais.
  1. Sustentabilidade de recursos: houve destaque para o número de empresas que hoje mantém  seu trabalho social, mesmo com possibilidades de apoio e recursos cada vez mais escassos. É preciso que estas organizações sejam capazes de gerar negócios que sustentam a entidade. O Instituto Filantropia, por exemplo, possui uma editora. O Roberto Ravagnani, do Canto Cidadão, tem uma empresa de consultoria para ações motivacionais e uma rádio que ajudam a financiar o trabalho de mais de 1500 voluntários palhaços em hospitais públicos de São Paulo. Ideias assim, fazem o trabalho das organizações se fortalecer, ganhar autonomia e ir ainda mais longe. 
  1. Voluntários: é fundamental perceber que a dedicação deve ser sustentada pelo treinamento cuidadoso;  saber não exigir mais dos voluntários e promover o ditado do Mahatma Ghandi de “ser a mudança que você quer no mundo”, é importante. Falou-se de um ativo a ser mobilizado entre os aposentados de vários setores de trabalho que poderiam emprestar aos jovens procurando orientação a sua experiência.    
  1. Inclusão, paixão, respeito, dedicação: falou-se muito da importância de valorizar o que dá vida às ações das organizações e lideranças e a necessidade de expressar indignação frente aos obstáculos burocráticos. 
  1. Captação de recursos: o tema foi citado por vários dos 40 palestrantes. Rosa Morales, fundadora de Casa Hogar Judeo Cristiana (CHJC), hoje parte do YMCA do México, e Presidente do Conselho do YZ Proyectos de Dessarollo .A.C. deu as seguintes dicas: “Lembre-se de que você não está pedindo recursos para você mas sim para uma causa; envolva o seu conselho e diretoria para abrir portas e dar credibilidade adicional ao seu trabalho; não fale muito, 5% do tempo, e escute, sempre escute o que o potencial doador tem a dizer”. 
  1. Incentivos fiscais: Fagna Freitas, Vice-Presidente da Associação Brasileira de Captadores de Recursos, (ABCR) destacou a importância de manter o ‘brilho nos olhos’ e valorizar a transparência na prestação de contas como ingredientes fundamentais no esforço de captação.

8. Danilo Tiisel, advogado pela USP com especialização em Legislação do Terceiro Setor falou da Legislação brasileira de incentivos fiscais e o desenvolvimento do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil.A representante do Ministério da Justiça, Aline Gonçalves de Souza, informou que um grupo de Trabalho que inclui organizações de terceiro setor (GIFE, ETHOS e outros) está na reta final da discussão sobre o marco e convidou para acompanhar as discussões em www.plataformaosc.org.br.

Rogério Martir,VP da OAB-Guarulhos e Nelson Williams da OAB- SP; Tomáz de Aquino, Procurador de Justiça – MG; e Danilo Tiisel, Membro do Grupo Estratégico da Comissão de Direitos do Terceiro Setor – SP, debateram e aprofundaram pontos de interesse. Houve opiniões diferentes em relação a tempo ou até da possibilidade de fato da aprovação pelo governo de leis mais abrangentes de incentivo fiscal ou do Marco Regulatório de certificação de organizações da sociedade civil.

Para o encerramento, Márcio Zeppelini, Fundador do Instituto Filantropia, fez um exercício participativo sobre sustentabilidade de indivíduo – de forma bem humorada e ate lúdica – envolvendo todos participantes na discussão de relações sustentáveis; do não desperdício; reconhecimento e ser reconhecido; individualidade; experiência; os pesos que todos carregamos, emoções como alegria, tristeza, raiva e medo; das habilidades e também a importância do fator sorte! Ele anunciou o próximo FIFE 2015 em Gramado, Rio Grande do Sul.