União de saberes ancestrais, em conjunto com os conhecimentos da medicina atual, fortalecem a essência da maternidade na Amazônia
“O que motiva a executar o projeto é o grande saber existente na região e o quanto a história da medicina usou do saber popular, mas nunca valorizou devido a origem das parteiras.” – Patrícia Delpino Martins, 33 anos, fundadora da Mama Ekos.
Por Bruno Faria
A maternidade anda em paralelo com diversas simbologias como início da vida, amor, cuidado, acontecimentos e palavras que já estamos acostumados a ouvir e repetir inúmeras vezes. Mas será que as mulheres grávidas vivem todo esse imaginário que existe em torno da gravidez? Será que recebem a assistência necessária durante o pré-natal e na hora do parto? Esses questionamentos inspiraram Patrícia Delpino Martins a fundar a Mama Ekos.
Formada em fisioterapia, Patrícia Delpino Martins especializou-se em saúde da mulher e desde então passou a se interessar pela área da gestação e parto. Trabalhando na área da saúde, Patrícia passou a acompanhar de perto os problemas cotidianos em cirurgias, abusos e corrupção que ocorrem dentro do sistema hospitalar. Viu o grande número de cirurgias desnecessárias e a falta de prevenção para determinados casos de atendimentos, o que a fez buscar e realizar um atendimento mais humanizado e afetivo, focando seu trabalho na área de fisioterapia e prevenção.
A desilusão com o sistema de saúde formal foi um impulso para ela afastar-se do emprego e focar no aprendizado sobre empreendedorismo social. A partir dos estudos na área social, nasceu o projeto Mama Ekos que teve seu início em parceria com a organização Favela da Paz, no Jardim Nakamura, bairro da periferia de São Paulo.
No Jardim Nakamura, a Mama Ekos começou o trabalho de fortalecimento das mulheres, produção de documentário com as gestantes, a partir da escuta das histórias e dos problemas crônicos da região. Com a ambientação e reconhecimento na região, o projeto passou a realizar encontros de gestantes com rodas de conversas e cursos relacionados a gestação e parteria.
O aprendizado com a população local do Jardim Nakamura e o crescimento do projeto levaram Patrícia, em 2016, para a Amazônia. Em Maués pode aprender mais sobre medicina natural e parteria tradicional, percebeu a desvalorização das práticas ancestrais das parteiras por parte da medicina formal na Amazônia. Mama Ekos, assim, passou a se estruturar em Maués para fortalecer a essência da maternidade através da união de saberes ancestrais em conjunto com os conhecimentos da medicina atual.
O trabalho em Maués começou com o fortalecimento das parteiras, reunindo as mulheres portadoras do conhecimento ancestral sobre partos e medicina natural. O objetivo foi colocá-las como protagonistas das atividades, multiplicadoras, unindo os saberes ancestrais aos conhecimentos de médicos do sistema de saúde da região, utilizando o mesmo modelo que já era trabalhado em São Paulo.
Além disso, a Mama Ekos tem trabalhado para o resgate do uso de plantas medicinais e para a construção de um espaço de atendimento e suporte de mulheres vindas do interior que não tem onde ficar durante os exames do pré-natal.
A viagem para uma pesquisa na Amazônia mudou completamente a vida de Patrícia. O envolvimento com o trabalho e a população local foram imediatos, e ela resolveu se mudar de vez para a região. As atividades da Mama Ekos em Maués vem promovendo mudanças no sistema de saúde e na forma como a população lida com a gestação.
Apesar de ter nascido em São Bernardo do Campo, Patrícia hoje tem Maués em seu coração, cidade na qual ele ajudou a transformar vidas e que transformou sua vida. Em 2018, Patrícia teve o seu primeiro filho, que nasceu em Maués com toda a metodologia Mama Ekos, unindo os saberes ancestrais e atuais, respeito e a participação de parteiras, enfermeiras, doulo, doulas, família e amigos.
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