Arte somada com educação. O poder de transformar relações, melhorar convivências e promover respeito.
Aprender a conviver e respeitar as diversidades. E foi com esse objetivo que Carlotas desenvolveu uma metodologia que utiliza a ludicidade e as linguagens artísticas para promover a empatia e o respeito às diferenças. Atuando em escolas públicas, a iniciativa desenvolve competências socioemocionais em crianças e adultos ajudando a construir relações mais saudáveis e cuidadosas, ambientes mais empáticos e pacíficos, respeito ao diferente e maior conexão entre as pessoas.
Em 2016 essa metodologia começou a ser desenvolvida com jovens cumprindo medidas socioeducativas na Fundação Casa, em São Paulo, e os impactos dessas atividades lá dentro podem influenciar novas perspectivas de vida e futuro aqui fora. As atividades envolveram três grupos de adolescentes entre 11 e 18 anos da unidade Chiquinha Gonzaga, que abriga apenas mulheres.
“A partir do momento em que cada uma se aceita como é e percebe que seu modo de ser merece ser respeitado – além, é claro, do correspondente respeito aos outros -, seus potenciais se afloram.”
Conversamos com Daniel Frachin, Gestor de Marketing e Relações Públicas da Carlotas, que nos contou sobre o desenvolvimento, os resultados, a efetividade desse tipo de iniciativa no contexto socioeducativo, e o potencial de influenciar possíveis mudanças em políticas públicas para ressocialização desses jovens.
BrazilFoundation – Quais foram as ações desenvolvidas com as meninas? Que estratégias foram utilizadas?
Carlotas – São realizadas 4 oficinas mensais, em que as meninas são estimuladas a refletir e a manifestar artisticamente – por meio de desenhos, pinturas, colagens, etc. – o autoconhecimento, as emoções, os sentimentos, a diversidade, a empatia, as tomadas de decisão e a aceitação do outro.
O acesso aos personagens do Mundo de Carlotas também é utilizado estrategicamente para que elas consigam se identificar, além de reconhecer que não existe a perfeição. Nesse sentido, cada uma tem características próprias, que devem ser respeitadas pelas demais.
BF – Que profissionais estavam envolvidos nessa ação?
Carlotas – As oficinas são conduzidas pela mediadora de Carlotas, Ana Carolina Dorigon, que é educadora e psicopedagoga, além do lastro artístico contido nos materiais trabalhados, que foram desenvolvidos pela artista plástica Carla Douglass.
BF – Que impactos vocês acreditam que esse tipo de ação terá para as meninas?
Carlotas – A partir do momento em que cada uma se aceita como é e percebe que seu modo de ser merece ser respeitado – além, é claro, do correspondente respeito aos outros -, seus potenciais se afloram. Além disso, os estímulos trabalhados nas oficinas geram novas referências para a construção de relações mais humanas, tanto com as colegas, no ambiente recluso, quanto com os personagens do círculo social de cada uma.
BF – Como esse trabalho, e a metodologia utilizada, pode contribuir para mudanças no processo de ressocialização dos adolescentes cumprindo medidas socioeducativas?
Carlotas – A partir do momento em que as habilidades sociais e emocionais são trabalhadas por meio da arte e da ludicidade, torna-se possível acessar os projetos de vida das adolescentes, além de seus medos, sonhos, angústias e expectativas. Cria-se, assim, um vínculo de confiança, além de diferentes canais de acesso a novos valores e referências, facultando a elas a possibilidade de refletir sobre novas possibilidades e escolhas para o futuro.
BF – É possível influenciar políticas públicas a partir de ações como essa?
Carlotas – Com absoluta certeza, principalmente se houver alinhamento e parceria com o sistema educacional. Uma escala maior deste trabalho, com o zelo de se prezar pelo respeito à história e ao repertório de cada ser humano envolvido, certamente contribuiria para que o processo de ressocialização pudesse inserir na sociedade cidadãos seguros de suas potencialidades e confiantes para a busca de novas oportunidades na vida.
BF – Vocês já conseguiram perceber alguns resultados com essa primeira ação? Quais são os próximos passos?
Carlotas – Sim. Na Fundação Casa, cada adolescente percorre uma escala de 3 fases, cuja promoção de uma fase para a outra depende de seu desempenho numa série de quesitos avaliados, como comportamento, relacionamento, autocontrole, gerenciamento de conflitos, dentre outros.
Assim, quando se inicia a reclusão, cada jovem passa pela Fase 1, até atingir gradativamente a Fase 3, antes de retornar à sociedade.
Este percurso de atividades de Carlotas, que focou até aqui as Fases 2 e 3, impactou positivamente o comportamento de um grande número de adolescentes, o que pôde ser medido pela aceleração do processo de promoção de fases de cada uma delas. Quanto aos próximos passos, pretendemos estender este trabalho às adolescentes da Fase 1 e, em parceria com o Mundo Aflora, acompanhar as atividades das meninas fora da Fundação Casa.
BF – O Mundo Aflora, outro projeto apoiado por nós, também realizou atividades no mesmo local. Como foi a colaboração entre vocês para o desenvolvimento dessas ações?
Carlotas – Nesta parceria com o Mundo Aflora, Carlotas teve a responsabilidade por desenvolver 2 oficinas. Numa delas, as jovens foram estimuladas a traçar objetivos de vida a partir de seus próprios sonhos e desejos, com uma postura de confiança e protagonismo neste processo.
Já a segunda oficina teve foco no estímulo ao processo criativo, para que os sonhos e desejos da primeira oficina fossem representados por meio de diferentes expressões artísticas (desenho, poesia, pintura e música) e, assim, pudessem ser tangibilizados. Para este trabalho, Carlotas convidou um artista venezuelano em situação de refúgio, que trouxe seu testemunho e partilhou muitas histórias e experiências com as adolescentes.
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