A educação construindo um futuro de oportunidades para jovens da periferia
Após cumprir pena por envolvimento com o tráfico Emerson Ferreira fundou o Reflexões da Liberdade e está transformando as vidas de muitos jovens
Por Bruno Faria
Jovens moradores de periferia no Brasil convivem com a desigualdade social, a falta de estrutura pública para um ensino de qualidade e pouco ou quase nenhum acesso a bens culturais. Problemas que os deixam expostos e vulneráveis à violência e ao aliciamento para atividade ilícitas. Foi para provocar reflexões e apresentar um novo horizonte aos jovens que Emerson Ferreira criou o Reflexões da Liberdade, um projeto social que percorre escolas públicas debatendo temas como sonhos, resiliência, Direitos Humanos, justiça social, família, criminalidade, cultura de paz, competências socioemocionais.
“Nós estamos mostrando que as pessoas que nascem na quebrada não estão fadadas a ter uma vida sem perspectiva, existe uma porta de saída transformadora para romper com o círculo vicioso da criminalidade, e essa porta é a educação.” ele diz.
Emerson nasceu no Jardim Santa Luzia, em Embu das Artes, São Paulo, bairro com 3.800 habitantes e sem nenhuma opção cultural, de esportes ou de lazer. A mãe de Emerson trabalhava em três empregos para sustentar a casa e evitar que o filho seguisse pelos caminhos tortuosos como álcool, drogas e o crime. Como acontece com muitos jovens de periferia, Emerson precisou abandonar a escola para ajudar nas despesas de casa muito cedo.
Sem conseguir enxergar possibilidades e outros meios de vida, com dificuldades para ajudar a mãe no sustento da casa, Emerson foi aliciado pelo tráfico de droga e, aos 19 anos, foi preso por envolvimento com tráfico de drogas.
Na cadeia, entendeu o real significado da escassez, degradação humana, falta de estrutura familiar, psicológica, educacional, e das consequências disso tudo na vida de muitas pessoas. Foi lá que começou a refletir sobre os rumos que sua vida poderia tomar se continuasse repetindo o ciclo vicioso dos jovens de sua comunidade, e começou a buscar formas de mudar o rumo da sua vida e como contribuir para que outros jovens não seguissem o mesmo caminho que o dele até ali.
“Eu não fui o primeiro da minha família a ser preso, mas saindo daqui eu serei o primeiro a entrar na universidade e ter meu diploma.” – ele pensava.
Ainda dentro do sistema penitenciário, voltou a estudar e começou a criar o que se tornaria o Reflexões da Liberdade. Três meses após estar oficialmente em liberdade, estava matriculado na faculdade de Psicologia. Trabalhou com o AfroReggae, começou a palestrar, contou a história da sua vida para jornais e revistas, em um grande movimento de recuperação da sua autoestima.
Durante essa época, abraçou todas as oportunidades e sistematizou todas as ideias que iam surgindo. Sabendo que poderia se tornar uma referência positiva, passou a se dedicar totalmente à educação. Ao se formar na faculdade estava seguro com seus conhecimentos e vivências, e foi então que fundou o Reflexões da Liberdade.
O projeto já foi realizado em 12 escolas de São Paulo, gerando mobilização e transformação. A ideia é que alunos, professores e responsáveis se reconheçam como agentes de mudanças. Mais de 5 mil jovens já participaram dessas trocas. “Estamos fortalecendo a visão de longo prazo para criar o futuro desejado com base nos valores humanos.”
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