“Cresci vendo a violência e encontrei pessoas que fizeram algo por mim, agora eu quero retribuir.”

7 de dezembro de 2018 • Publicado em Projetos apoiados

Cresci vendo a violência e encontrei pessoas que fizeram algo por mim, agora eu quero retribuir.

Anderson Veridiano fundou o Projeto Viela e usa sua história para escrever novos caminhos

Por Bruno Faria

O Estatuto da Criança e do Adolescente diz que é dever da sociedade em geral e do poder público assegurar a meninos e meninas os direitos básicos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à dignidade, entre outros. Mas no Jardim Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, a maioria desses direitos são negados às crianças e jovens. Anderson Veridiano Agostinho, o Buiu, lembra com tristeza do momento que entrou no mundo das drogas, aos 13 anos, e busca forças no trabalho social para que outros filhos do bairro não entrem no mesmo barco difícil que ele navegou.

Apesar de ter sido aqui o lugar responsável por destruir parte da minha vida, eu considero esse lugar importante e eu preciso promover o desenvolvimento desse lugar para mudar as histórias de vida daqui.” – diz Anderson.

Aos 36 anos, ele hoje é o presidente do Projeto Viela, que nasceu para construir histórias diferentes da dele. Pelo acesso à cultura e ao esporte, Buiu envolve jovens do Jardim Ibirapuera e os apoia na elaboração de seus projetos de vida, valorizando o respeito e a convivência em comunidade.

Anderson nasceu no Jardim Ibirapuera e, assim como muitos jovens de lá e de outras periferias do Brasil, também teve os seus direitos de infância negados em uma comunidade sem acesso a ferramentas que proporcionam uma perspectiva de futuro. Aos 13 anos, ele se envolveu com álcool e drogas, problemas com os quais conviveu por 14 anos de sua vida, até procurar ajuda em projetos sociais de São Paulo, onde permaneceu por três anos. Além de conseguir superar os problemas com drogas, foi lá que ele percebeu que as atividades que estava experimentando podiam contribuir para o desenvolvimento dos jovens, mas não estavam chegando até o Jardim Ibirapuera. Anderson uniu, então, toda a experiência que o projeto lhe deu e tudo o que viveu durante o tempo que esteve fora para replicar a metodologia social em sua comunidade.

O Projeto Viela mudou meu sentido de olhar a vida. Vejo muito descaso do Estado, da escola, e da família. Quando a criança tem dificuldade, ninguém tenta ajudar. Eu cresci vendo a violência e encontrei pessoas que fizeram algo por mim, agora eu quero retribuir.”

O Viela tem 10 anos atuação e já impactou mais de 1.400 crianças e adolescentes. O começo dessa história foi um período de incertezas, ele estava ansioso pra saber como a comunidade iria reagir, mas sabia que não podia mais esperar, era necessário fazer alguma coisa para transformar o território e a vida daqueles jovens.

As primeiras atividades da organização foram cineclubes e, logo em seguida, vieram as atividades de leitura e esportes. Atualmente, o foco da organização é a educação que visa dar um sentido crítico aos processos de aprendizagem, para que seja construtivo e engajador para crianças e jovens da comunidade. Além de atividade de apoio educativo, que inclui ainda reforço escolar, Buiu quer fortalecer nos jovens a percepção sobre seu próprio potencial, que pode ter como primeiro ponto de transformação a própria comunidade.

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